terça-feira, 10 de julho de 2012

O novo latim das redes sociais é o inglês... Uma "merda"? Ou será uma criação tribal de resistência ao "sistema"?




Perante estas fotos fabulosas, escreve o anglo-saxónico responsável por esta página do facebook: "This always blows my mind" [Isto rebenta com a minha cabeça]. Também é curioso o nome da página: "I fucking love science" [Gosto fodidamente da ciência].  



Este tipo de escrita [mistura o calão operário de Manchester com estilo escocês popular] começa a ser uma espécie de bandeira, de estilo internético que os jovens portugueses tentam desesperadamente imitar arrasando assim, segundo alguns especialistas, a nossa língua.

Mas será que terá mesmo de ser assim? Não haverá aqui um regresso às cavernas, a formas mais pobres de ser humano, uma nova bárbarie. Falando em bom português, do antigo, não será isto uma enorme "merda"? Ou será que o inglês, como língua, já tem esse vírus na sua natureza?

Será tudo isto bom? Será um índicio de que algo está mudar, um sinal positivo de uma nova sociabilidade emergente, mais tribal, aberta e sadia como defende o sociólogo francês Michel Maffesoli? Mais informal e menos rígida? 

Neste texto, apenas me vou debruçar sobre o ingês como língua, procurar na história indícios que me permitam entender o seu êxito actual. É apenas, de certa forma, uma crónica escrita no fluxo do Facebook.

Finalmente (já era tempo!), começo a entender porque os romanos (e os gregos antigos ao falarem dos que naquela altura falavam línguas com a mesma origem) designavam como "bárbaros" estes povos e esta linguagem, o inglês. Infelizmente parece que esta língua anglo-saxónica tende a ser maioritária no planeta. Com um planeta falando assim, honestamente prefiro mil vezes o chinês. E o que me assusta ainda mais é ver hordas de jovens (muitos deles passaram mais de 1 dezena de anos sentados nas escolas dos vários níveis de ensino) que nasceram em ambientes onde se falam línguas tão elaboradas e inteligentes como o português (neto do antigo e clássico Grego), que de forma provinciana renegam e a sua língua-mãe ( dizia o Pessoa com toda a razão que a sua pátria era a língua portuguesa) e tentam imitar os novos bárbaros. Destinos muito incertos (para não dizer outra coisa mais dolorosa) esperam este planeta!

Esclareço eventuais leitores ou leitoras destas ruminações vagabundas que não sou contra a língua inglesa em si. Nem um nacionalista ferrenho. Pelo contrário: os escritores que me marcaram foram, na era moderna, quase todos anglo-saxónicos. Eles combinam de forma sublime e justa o lado bárbaro do inglês, a sua ligação à natureza (o mesmo se passa, creio no alemão, por exemplo, mas de forma diferente) com o saber, a inteligência que nos ficou da cultura greco-romana. O lado bom que ficou dessa cultura. 

Defendo, isso sim, a ideia de uma pluralidade, como uma polifonia harmónica, como um canto gregoriano em que as diferenças linguísticas sejam entendidas como pontes e não separações. Defendo que a pluralidade deve passar pelo respeito e não pela uniformização da diferença. 

E, num registo mais pragmático e com uma dimensão política, creio que a defesa das línguas locais seja o português ou a língua de uma tribo na Amazónia é também uma questão de ecologia ou de ecosofia. Não são apenas as árvores da selva amazónica que estão sendo destruídas. É também todo um saber (e formas sadias de nos exprimirmos e de viver) que se está a destruir. Tudo isso nos devia fazer corar de vergonha ou de indignação da nossa condição de europeus. 

Os bárbaros de facto somos cada vez mais nós, os conformistas e adoradores dos mitos dos media , que aceitamos passivos a expansão desta forma de falar, trocar, produzir e consumir, os educados pela ignorância da cultura judaico-cristã e da ética protestante do negócio que domina este mundo do deus "mercadoria". 

Um fetiche ( feitiço) realmente poderoso, o capitalismo, bolas!

Excurso

Diz Stephen Thompson: "Os gregos antigos não podem ter designado a lingua Inglesa de barbárie humana, porque, naquela época, o idioma Inglês não existia".

Primeiro o significado da palavra "bárbaro" não é o mesmo do actual. Língua "bárbara" queria apenas dizer que era "estrangeira" ao latim ou ao grego antigo. Não é um adjectivo de desvalorização.

Segundo, você tem razão do ponto de vista formal. Não é totalmente rigoroso dizer o que digo mas de qualquer forma não fujo muito à verdade. Nessa altura, no tempo da grécia antiga clássica de Platão e Aristóteles, não se falava o inglês em Inglaterra. Apenas o celta e possivelmente outras línguas muito anteriores aos celtas. Mas existiam já as formas linguísticas que mais tarde vão estar na origem do inglês mas não em Inglaterra: era a língua dos "bárbaros" germânicos. Como sabe, o inglês surge, mais tarde, já no império romano. O inglês é uma língua colonial usada pelos estrangeiros que, de certa forma, invadem Inglaterra. Paradoxalmente, o inglês não pertence aos indígenas ingleses. Foi uma língua germânica introduzida pelos invasores ou colonos "bárbaros" germânicos e outros. Na antiga Inglaterra, na altura do fim do Império romano, não se falava o inglês mas antes o latim (na parte controlada pelo exército romano) e a língua dos indígenas, o celta, partilhada pelos irlandeses daquela altura e pelos escoceses. E, já agora, também partilhada, entre outros, pelos indígenas ibéricos, já subjugados aos romanos, do noroeste da Península Ibérica que inclui agora a Galiza e o Norte de Portugal. "O inglês é uma língua germânica ocidental que se originou a partir dos dialetos anglo-frísio e saxão antigo trazidos para a Grã-Bretanha por colonos germânicos de várias partes do que é hoje o noroeste da Alemanha, Dinamarca e Países Baixos [Curiosamente os que são considerados actualmente como a parte culta da Europa]. Até essa época, a população nativa da Bretanha Romana falava língua celta britânica junto com a influência acroletal do latim, desde a ocupação romana de 400 anos." Fonte: Wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_inglesa

Já agora podemos verificar que contrariamente aos germânicos e aos greco-romanos, e à tradição judaico-cristã, que marca infelizmente a cultura inglesa e os valores ocidentais do capitalismo actual, os celtas tinham uma visão diferente que se aproxima paradoxalmente da cultura dos povos do sul do México e Guatemala de influência "maya".

Os celtas "exaltavam as forças telúricas expressas nos ritos propiciatórios. A natureza era a expressão máxima da Deusa Mãe. A divindade máxima era feminina, a Deusa Mãe, cuja manifestação era a própria natureza e por isso a sociedade celta embora não fosse matriarcal mesmo assim a mulher era soberana no domínio das forças da natureza. A religião celta era politeísta com características animistas, sendo os ritos quase sempre realizados ao ar livre". Uma das cidades marcadas pela cultura celta é curiosamente o Porto (Oporto em inglês), situada no Norte de Portugal, cidade onde eu nasci.



José Pinheiro Neves

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O que é a ECOSOFIA?



O que é a Ecosofia?




O conceito de Ecosofia surge em 1972 numa conferência do pensador ecologista norueguês Arne Naess. Mais tarde, será desenvolvido fundamentalmente por três pensadores: o referido Arne Naess, pai da ecologia profunda, o pós-marxista e psiquiatra Félix Guattari (não esquecendo a contribuição fundamental de Gilles Deleuze) e, mais recentemente, o sociólogo francês Michel Maffesoli.


1. A ecologia profunda de Arno Naess

Arno Naess definiu a ecosofia da seguinte maneira: "Por Ecosofia eu quero dizer uma filosofia de harmonia ou equilíbrio ecológico. Filosofia como um tipo de sofia ou sabedoria é abertamente normativa, contém normas, regras, postulados, anúncio de prioridades e hipóteses relacionados à situação do universo. Sabedoria é sabedoria política, prescrição, não apenas descrição científica e predição. Os detalhes de uma ecosofia conterão muitas variações devidas a diferenças significativas relacionadas não apenas aos ‘fatos’ da poluição, dos recursos naturais, da população, etc. mas também a prioridades de valores".
in Vários, The Deep Ecology Movement: An Introductory Anthology, Berkeley, North Atlantic Publishers, 1995, p. 52.



2. As três ecosofias de Guattari


Segundo Félix Guattari, "a ecosofia social consistira, portanto, em desenvolver praticas especificas que tendam a modificar e a reinventar maneiras de ser no seio do casal, da familia, do contexto urbano, do trabalho, etc."
in Félix Guattari, As Três Ecologias, Campinas, Brasil, Papirus,1990.


"A ecosofia mental, por sua vez, será levada a reinventar a relação do sujeito com o corpo, com o fantasma, com o tempo que passa, com os ‘mistérios’ da vida e da morte. Ela será levada a procurar antídotos para a uniformização midiática e telemática, o conformismo das modas, as manipulações da opinião pela publicidade, pelas sondagens etc."
Vários, The Deep Ecology Movement: An Introductory Anthology, Berkeley, North Atlantic Publishers, 1995, p. 52.


"O princípio particular à ecologia [ecosofia] ambiental é o de que tudo é possível tanto as piores catástrofes quanto as evoluções flexíveis. Cada vez mais, os equilíbrios naturais dependerão das intervenções humanas. Um tempo vira em que será necessário empreender imensos programas para regular as relações entre o oxigênio, o ozônio e o gás carbônico na atmosfera terrestre.
Vários, The Deep Ecology Movement: An Introductory Anthology, Berkeley, North Atlantic Publishers, 1995,  p. 52

3. A ecosofia segundo Maffesoli 

Num livro recente, Michel Maffesoli define a ecosofia como sendo uma forma de  "compreender a metamorfose em curso. Ela que nos faz passar de progressismo (que foi vigoroso, que deu bons resultados, mas que se torna um pouco doentio) para uma progressividade que reinveste em ‘arcaísmos’: povo, território, natureza, sentimentos, humores… que pensávamos ter deixado para trás". 
in Michel Maffesoli, Saturação, São Paulo, Iluminuras, 2010.


Conclusão

A ecosofia seria a busca duma dimensão ecossistêmica e não mais antropocêntrica das relações do homem com o meio ambiente, com a sua mente e com os outros humanos. Trata-se de um campo de conhecimento que integra as ciências humanas, naturais e económicas (
André Bürger, "Ecosofia, redes digitais sustentáveis e os efeitos da tecnologia no homem moderno", Disponível em: http://envolverde.com.br/ambiente/artigo/ecosofia-redes-digitais-sustentaveis-e-os-efeitos-da-tecnologia-no-homem-moderno/ [acesso em 15/05/2011])






Inspirado no trabalho de Félix Guattari, Gilles Deleuze e Michel Maffesoli, sugiro uma definição mais ampla e abrangente: a 
Ecosofia é a procura duma forma de vida menos antropocêntrica nas relações do homem com o meio ambiente incluindo o ambiente digital, com a sua mente e com os outros humanos. Trata-se de um campo transdisciplinar de conhecimento e experimentação que integra tanto as ciências humanas, naturais e económicas como a estética e as formas comuns e, muitas vezes, marginalizadas do saber." 











José Pinheiro Neves


Texto inspirado (nomeadamente as citações) em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ecosofia 

Publicado originalmente no blogue:

http://socialsoftware-portugal.blogspot.pt/2012/07/o-que-e-a-ecosofia.html