quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Facebook e o Google querem capturar o nosso "tempo"?

O determinismo tecnológico, aliado às novas formas de capitalismo, caracteriza a mentalidade dos jovens engenheiros americanos que criaram o Facebook e o Google.


"“O engenheiro é rei, e está acima da multidão”, escreve o autor. Os próprios fundadores são descritos no livro como engenheiros frios, com uma mente matemática e um gosto pela objectividade e exactidão" (ver notícia do Público no final).

Contudo, este determinismo é, no essencial, uma forma de cegueira. Impede de ver as disposições subjectivas dos utilizadores, de ver uma outra possibilidade de estar em rede que não seja a que obedece às necessidades de lucro. E de ver que somos animais com medos, com uma subjectividade.

"Auletta argumenta que esta mentalidade de engenheiros, que foi capaz de tornar a Google num gigante, é também responsável por fazer com que esta tenha sido lenta a compreender as preocupações que as pessoas têm com a privacidade. “A privacidade é uma bomba atómica que pode explodir nas mãos da Google.”"

"“Os engenheiros são bons naquilo que conseguem medir. [Mas] os medos relacionados com a privacidade não são facilmente mensuráveis”, explica Auletta ao PÚBLICO."

A mentalidade baseada no determinismo tecnológico aliada ao novo capitalismo tende a reproduzir o uso entrópico do tempo. Alienado. Uma dependência doentia. Por alguma razão, os jogos on-line são objecto de uma divulgação intensiva em detrimento das questões da nossa privacidade (e do uso criativo e humano da Internet).

Como muito bem diz o autor do estudo, querem acima de tudo capturar-nos, capturar o nosso "tempo": "Auletta responde ao PÚBLICO: “O Facebook é uma ameaça [para o Google] porque ocupa o tempo das pessoas. Quanto mais tempo é gasto no Facebook, menos tempo se passa a usar [produtos da] Google.”

Quanto mais tempo é gasto no facebook (e no Google), menos tempo temos para estar com os amigos. Os autênticos. Menos tempo temos para "estar" connosco próprios. Apenas estar.

Por isso, a resistência também passa por saber usar, de uma outra forma, este "tempo". Não ser apanhado, como uma vítima indefesa, por esta armadilha.

http://www.publico.pt/Tecnologia/google-contra-todos_1438733