quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Facebook e o Google querem capturar o nosso "tempo"?

O determinismo tecnológico, aliado às novas formas de capitalismo, caracteriza a mentalidade dos jovens engenheiros americanos que criaram o Facebook e o Google.


"“O engenheiro é rei, e está acima da multidão”, escreve o autor. Os próprios fundadores são descritos no livro como engenheiros frios, com uma mente matemática e um gosto pela objectividade e exactidão" (ver notícia do Público no final).

Contudo, este determinismo é, no essencial, uma forma de cegueira. Impede de ver as disposições subjectivas dos utilizadores, de ver uma outra possibilidade de estar em rede que não seja a que obedece às necessidades de lucro. E de ver que somos animais com medos, com uma subjectividade.

"Auletta argumenta que esta mentalidade de engenheiros, que foi capaz de tornar a Google num gigante, é também responsável por fazer com que esta tenha sido lenta a compreender as preocupações que as pessoas têm com a privacidade. “A privacidade é uma bomba atómica que pode explodir nas mãos da Google.”"

"“Os engenheiros são bons naquilo que conseguem medir. [Mas] os medos relacionados com a privacidade não são facilmente mensuráveis”, explica Auletta ao PÚBLICO."

A mentalidade baseada no determinismo tecnológico aliada ao novo capitalismo tende a reproduzir o uso entrópico do tempo. Alienado. Uma dependência doentia. Por alguma razão, os jogos on-line são objecto de uma divulgação intensiva em detrimento das questões da nossa privacidade (e do uso criativo e humano da Internet).

Como muito bem diz o autor do estudo, querem acima de tudo capturar-nos, capturar o nosso "tempo": "Auletta responde ao PÚBLICO: “O Facebook é uma ameaça [para o Google] porque ocupa o tempo das pessoas. Quanto mais tempo é gasto no Facebook, menos tempo se passa a usar [produtos da] Google.”

Quanto mais tempo é gasto no facebook (e no Google), menos tempo temos para estar com os amigos. Os autênticos. Menos tempo temos para "estar" connosco próprios. Apenas estar.

Por isso, a resistência também passa por saber usar, de uma outra forma, este "tempo". Não ser apanhado, como uma vítima indefesa, por esta armadilha.

http://www.publico.pt/Tecnologia/google-contra-todos_1438733

sábado, 14 de agosto de 2010

UnderstandingSociety: Gabriel Tarde's rediscovery

Gabriel Tarde could help us to understand the new links on society of information. Read this text.

"Gabriel Tarde was an important rival to Emile Durkheim on the scene of French sociology in the 1880s and 1890s. Durkheim essentially won the field, however, and Tarde's reputation diminished for a century. Durkheim's social holism and a search for social laws prevailed, and the sociology of individuals and the methodology of contingency that Tarde had constructed had little influence on the next several generations of sociologists in France. In the 1990s, however, several important strands of thought were receptive to a rediscovery of Tarde's thinking; Gilles Deleuze and Bruno Latour each found elements in Tarde's thinking that provided intellectual antecedent and support for ideas of their own. In the past fifteen years or so there has been a significant revival of interest in Tarde."

UnderstandingSociety: Gabriel Tarde's rediscovery

domingo, 13 de junho de 2010

PhD Course -Framing Screens: Knowledge, Interaction and Practice

PhD Course (5 ECTS)  - Framing Screens: Knowledge, Interaction and Practice

27-30 September 2010, IT University of Copenhagen, Denmark

Lecturers: Lucy Suchman (Lancaster University), Helen Verran (University of Melbourne), Christopher Gad (IT University of Copenhagen)

Hosted by Technologies in Practice Faculty Group (f.k.a. Design of Organizational IT)

This PhD course aims to unfold empirically and analytically how computer screens and other displays help 'project' or otherwise ‘perform’ knowledge, interaction and practice. Screens are increasingly ubiquitous, for example as part of personal computers, televisions, cameras, surveillance equipment, ticketing equipment, mobile phones and other handheld devices. Simultaneously screens play an increasingly important role in a wide range of human practices relating to work, play, travel, care, learning, planning, monitoring, designing, coordinating, modeling, policing and much else. At the same time screens are curious entities. They may stretch human interactions nearby to globally-distributed locations. They seem to multiply the world around us while simultaneously constructing very specific fields of vision. Thus, screens perform cuts between displayed worlds and human knowledge about the world. Screens also mediate human action in particular ways by actively participating in new visions that define and situate action. With their capacity to organize human attention elsewhere screens may enact viewer displacement, as viewers becomes screened off. Thus boundaries may shift between screens, the knowledge they present, the interactions they facilitate and the practices they engender. For these reasons, screens are objects of interest for contemporary social scientific research into technologically mediated environments, including anthropology, cultural/media studies, design studies, and science and technology studies (STS) . Drawing on a range of theoretical traditions the course aims to frame screens by exploring their implications for knowledge, interaction and practice. This includes but is not limited to analytical topics such as:

  • Shifting 'screen' relationships between practice (e.g. dwelling, working, travelling, playing, planning, controlling) and viewer positions (e.g. onlooker, spectator, user, voyeur, investigator)
  • Variations between heterogeneous on- and off-screen interactions
  •  Screens as organizers/disruptors/mediators of human knowledge, experience, perspectives, etc.
  • Space, place and temporalities of screens in local/global/glocal/trans-local situations and fields
  • Comparative or exploratory studies of recent 'hi-tech' displays (e.g. HD, LCD, mega-screens, 3-D, touch) vs. 'traditional' ones (e.g. theatres, windows, veils, frames)
  • Ethnographies of screens including qualitative implications of screen types, modes, juxtapositions, placements and proximities in practice
  •  Philosophical investigations of screens including debates about visible/invisible and presence/absence
  •  Screen' as a conceptual metaphor in social studies of technology, in other words what human practices can be understood as 'screening technology'?

Further information and application procedure may be found here



domingo, 6 de junho de 2010

Para uma etnografia das redes sociais na Internet. Tradução do artigo: "Etnografia Virtual"

"Etnografia Virtual

Daniel Domínguez, Anne Beaulieu, Adolfo Estalella, Edgar Gómez, Bernt Schnettler & Rosie Read

As actuais abordagens no estudo etnográfico da Internet são diversas, a proliferação de propostas tem sido numerosas nos últimos anos. A abordagem metodológica da etnografia virtual foi reformulada e ampliada através de novas propostas, como a etnografia digital, etnografia sobre e através da Internet, conectividade etnográfica, em rede etnográfica, ciberetnografia, etc. Cada uma delas mantém o seu próprio diálogo com a tradição estabelecida de Etnografia e formula a sua relação com esta tradição de diferentes maneiras. Há quem considere que a etnografia virtual envolve uma distintiva abordagem metodológica e aqueles que consideram que a pesquisa da Internet etnograficamente obriga-nos a reflectir sobre conceitos e pressupostos fundamentais da etnografia, mas isso não significa uma distintiva forma de etnografia. Os artigos desta edição especial sobre FQS virtual etnográficos mostram uma selecção das diferentes abordagens entre pesquisadores que estudam a Internet a partir de uma perspectiva etnográfica.

As diferentes propostas de fazer etnografia virtual são os resultados da forma pela qual a Internet é conceptualizada como ambos: cultura e contexto para interacção social. A Internet é um contexto aberto para interacções sociais onde as práticas, significados e identidades são mistos. Interacções sociais em ambientes virtuais apresentam um desafio para os pesquisadores sociais e abrem um novo campo de investigação qualitativa. Este número especial visa contribuir para o debate sobre a pesquisa etnográfica e da Internet, enquanto, ao mesmo tempo, chama a atenção para a necessidade de reflectir sobre os diferentes contextos adequados para a investigação social qualitativa.

O rótulo "etnografia virtual" inclui um vasto leque de abordagens metodológicas que visam responder às complexidades do objecto da investigação e às diferentes formas em que esse objecto foi construído. Etnógrafos virtuais, Etnógrafos da Internet ou do ciberespaço são confrontados com a necessidade de responder a perguntas muito prementes, como por exemplo, a utilização de dados heterogéneos (texto, audiovisual dados, etc), na sua análise, ou como combinar a investigação na frente da tela e no campo virtual. Um eterno ponto de tensão situa-se entre a aparente facilidade da recolha de dados e a dificuldade de acesso e participação no campo.

Embora os problemas de representação, perspectiva e participação não sejam novos na etnografia, quando se toma a Internet como um objecto de investigação para etnografia, todos estes temas têm de ser novamente considerados, em conjunto com outros conceitos básicos como a comunidade, ou processos fundamentais de como aceder e deixar o campo, ou o valor do investigador na experiência de campo. Neste sentido, a Internet ao tomar o objecto da pesquisa etnográfica exige uma ampla reflexão sobre conceitos centrais da etnografia.

A etnografia VIRTUAL não é apenas uma metodologia antropológica. Muitas diferentes disciplinas visam, na utilização da etnografia, aproximar-se dos seus objectos de investigação, tais como a sociologia, a pedagogia, filosofia, psicologia ou economia. Estas disciplinas têm incorporado a etnografia, como outra opção metodológica, para pesquisar as dimensões culturais dos fenómenos relacionados com as suas áreas de interesse. Este conjunto multi-disciplinar da etnografia enriquece e amplia o conjunto de respostas para as questões metodológicas levantadas. Esta diversidade de abordagens, em conjunto com alguns debates clássicos sobre etnografia, tais como a relação entre o investigador e o campo, questões éticas, a observação participante ou a "construção" da etnográfica discurso, tomam uma nova forma ao pesquisar na Internet. Todos eles têm inspirado as chamadas para este número especial FQS.
No artigo "Ética de campo: Rumo Situado da Ética para Etnografia de Investigação sobre a Internet", Adolfo ESTALELLA e Elisenda ARDÈVOL abordam algumas dessas questões éticas e abrem novas frentes relacionadas com a Internet etnográfica como método e metodologia. Eles também apontam para os aspectos éticos das actividades do pesquisador na área em que o virtual é superado pelo mundo físico. O trabalho de ESTALELLA e ARDÈVOL abre novas pistas de reflexão ao basear-se na utilização da prática etnográfica acerca de artefactos como o blog, na sua dupla condição como um instrumento para a obtenção de dados e como um meio de estabelecer relações no campo.

Esta última perspectiva é semelhante à que foi explorada por Rubén ARRIAZU em seu artigo, "Os Novos Meios ou Novas Formas de Investigação. Uma proposta Metodológica para investigação social on-line através de um Fórum Virtual". Ele argumenta sobre o importante papel dos artefactos e tecnologias na etnografia virtual. Através de uma análise da socialização em fóruns virtuais, o texto discute o que ARRIAZU prevê como uma mudança na forma como a pesquisa qualitativa na Internet é realizada. Para ele, a comunicação desempenha um papel fundamental na socialização na WWW e, sugere, a necessidade de adaptações teóricas e metodológicas para o desenvolvimento desta premissa.
O artigo: "Riereta.net: Epistémico e Políticos: Notas de um Tecno-activista Etnográfico" por Blanca CALLÉN, Marcel BALASCH, Paz GUARDERAS, Pamela GUTIÉRREZ, Alejandra LEÓN, Sandra MONTENEGRO, Karla MONTENEGRO e Joan PUJOL apresenta novas perspectivas analíticas e elementos de Reflexão. A proposta combina um projecto activista e uma etnografia virtual na rede. Eles consideram, na sua análise, de um lado, a tradução para o espaço virtual de algumas intervenções práticas e, do outro lado, as implicações que tem para a intervenção social de métodos etnográficos.

Heike Mónika GRESCHKE, no seu artigo "Registando no Campo-metodológico Reflexões sobre Etnografia de Investigação numa Pluri-Local e Campo mediático-computarizado", relata um estudo sobre uma plataforma Internet. A rede www.cibervalle.com é basicamente utilizada pelo paraguaio Diáspora, combinando actividades on-line e off-line. O autor discute esta experiência em relação a um argumento metodológico: a etnografia virtual não pode ser limitada a "tela investigação", mas tem de ser combinada com a observação física em vários locais, a fim de explorar o modo como o meio das actividades estão inseridas na vida quotidiana dos participantes.

Simona ISABELLA apresenta uns artigos metodológicos: "Etnografia do Papel Jogando jogos Online: O Papel do Virtual e verdadeiro concurso na Construção de Campo", com base no seu campo em dois MUDs. Ela discute algumas questões metodológicas e aborda questões relacionadas com a integração dos dados recolhidos por meio de interacções com diferentes tecnologias num objecto de estudo, neste caso, os dados de e-mail e mensagens instantâneas. Ela reflecte ainda sobre a forma de integrar os contextos locais dos jogadores. Mais uma vez, como em muitos artigos nesta edição, ela propõe-se também estudar as interacções entre indivíduos off-line. Simona no seu trabalho tem dois outros elementos essenciais. Primeiro, é um estudo comparativo entre dois MUDs, e etnografias comparativas são muito poucos no campo. Segundo ela é audaciosa, levando o MUD como objecto de um estudo, uma vez que esta tecnologia tem mais do que uma década de idade e perdeu o glamour - um ponto sobre o qual ela comenta que relevância na investigação social da Internet não é equivalente ao estudo do "Novo, de novo, coisa nova."

Kip JONES abre uma porta para a representação de dados qualitativos na Internet em "Como Eu peguei a Princesa Margaret? (E Eu Como Obter dela para a World Wide Web?)." Neste artigo, JONES narra com detalhe a tradução dos significados incluída numa auto-etnográfica narrativa desenvolvida por uma áudio/apresentação visual que, em seguida, migrou para a Internet. O caminho não é casual, e é o resultado de intensa audiência feedback e re-avaliação. No decurso deste processo, o artigo oferece um interessante ponto de vista qualitativo para os debates sobre a investigação ética, a capacidade da imprensa digital ao impacto sobre o discurso científico, bem como as possibilidades performativas da ciência social para representar dados qualitativos em formas não convencionais.

No seu artigo "Desenvolver Métodos ciber-etnográficos de Investigação para a Compreensão digitalmente Mediado Identidades", RYBAS e GAJJALA proporcionar-nos uma reflexão sobre o potencial pedagógico e analítico da observação participante numa situação de sala de aula. Questões de identidade podem ser profícuamente exploradas, os autores argumentam, etnográfico através de um engajamento em sites de identidade produção, a saber, as configurações, como FaceBook e MySpace.

Maurizio TELI, Francesco PISANU e David HAKKEN, em seu artigo "A Internet como uma biblioteca de Pessoas: Para uma ciber-etnografia dos Grupos Online", analisa algumas derivações da comunicação mediada por computador, quando os fenómenos obtém mais sobre a Internet e os colectivos ferramentas de Uso sincrónico e assíncrono. Baseia-se numa concepção da etnografia virtual como ciber-etnografia, a concentrar os seus autores na pesquisa etnográfica sobre a intersecção entre comunicação online e offline. As suas preocupações estudam grupos que interagem, em ambas as situações, e é baseada em conceitos clássicos de Ciência e Tecnologia nos Estudos de literatura como os cyborgs ou o ciberespaço.

O texto da Michaela FAY "Disciplinas Mobile, Mobile Métodos: Fazendo etnografia Virtual numa Rede Feminista on-line" fornece um interessante e teoricamente informada discussão do feminismo, mobilidade e tecnologia. Tomando como um estudo de caso da Universidade Internacional Feminino (IFU), o autor elabora um "unlocated" etnografia para compreender o papel da tecnologia na mobilidade de um grupo feminino que participa nesta universidade.

Numa cultura altamente mediática, em que a Internet é cada vez mais um protagonista na vida quotidiana e nas interacções sociais e emocionais, é necessário desenvolver novos instrumentos de investigação e de métodos analíticos adequados para gerir os dados que foram colectados. Os artigos em FQS 8 (3) tem o objectivo de abrir o debate em torno destas questões, fornecendo exemplos de estudos e promove a reflexão sobre os métodos utilizados em cada caso. Neste sentido, este tema constitui uma oportunidade para alargar as reflexões sobre um campo crescente que se está a tornar muito relevante.

Em toda esta extensão de artigos, a etnografia é articulada numa grande variedade de maneiras. Embora cada uma destas versões do que constitui uma etnografia esteja inscrita em particulares tradições e contextos institucionais, que continua a ser o desejo de compreender por engajar-se como um dos principais motivos do trabalho da maior parte dos autores. Desafios da mediação, de ajustes e mudanças online em distância ou no tempo, aqui agrupados sob o termo "etnografia virtual", estão todas preenchidas no decurso de tentar estabelecer este compromisso. Esperamos que as formas em que reafirmou o compromisso seja articulada e, de maneira particular será estimulante para os investigadores e estudantes que estejam interessados em rede e digital (ou não mediada) fenómenos".

(tradução de Luís Sampaio)

Artigo original:
Domínguez, Daniel; Beaulieu, Anne; Estalella, Adolfo; Gómez, Edgar; Schnettler, Bernt & Read, Rosie (2007). Virtual Ethnography. Forum Qualitative Sozialforschung / Forum: Qualitative Social Research, 8(3), http://www.qualitative-research.net/fqs-texte/3-07/07-3-E1-e.htm 

domingo, 23 de maio de 2010

Cuidado com os "especialistas" em redes sociais que aparecem como "novos profetas da web 2.0".


Para se compreender as redes sociais, existem ferramentas na área das Ciências Sociais. Pode-se usar a Análise das Redes Sociais: "métodos para a mensuração das relações de poder e influência, identificar pontos de concentraç ão das informações, enfim, trata-se de uma área multidisciplinar – e, por isso, fascinante – que envolve, além da própria sociologia, estatística, matemática, comunicação e tecnologia" (ver os artigos de Raquel Recuero: http://pontomidia.com.br/raquel/arquivos/livro_redes_sociais_na_internet.html ) .

Sim mas não é a única. Temos também outras ferramentas e teorias que podem complementar de forma qualitativa (e criticar) a Análise das Redes Sociais : a sociologia do imaginário (André Lemos, Maffesoli), a etnometodologia (Garfinkel), a teoria do actor-rede (Latour), a Escola de Palo Alto (Bateson), etc.
A propósito, ver este meu texto sobre o conceito de rede:
http://neves.do.sapo.pt/Mexico2003.pdf

"Na sociologia, o campo que dá conta deste assunto é o da Análise de Redes Sociais (SNA, em inglês). Ele se dedica a propor métodos para a mensuração das relações de poder e influência, identificar pontos de concentração das informações, enfim, trata-se de uma área multidisciplinar – e, por isso, fascinante – que envolve, além da própria sociologia, estatística, matemática, comunicação e tecnologia.
[...]

Para quem quer se aprofundar em comunicação na redes sociais sugiro conhecer inicialmente o trabalho da Orgnet e comparar com aquilo que é oferecido no Brasil pelas ditas agências 2.0. Em seguida, vale uma parada no site da International Network for Social Network Analysis. Por fim, indico a leitura do e-book Introduction to Social Network Methods, que oferece uma bela visão sobre o tema. Com isso, você estará bem munido para encarar de forma crítica os argumentos e as proposta superficiais desses novos profetas da web 2.0."
André de Abreu
http://imezzo.wordpress.com/2009/08/25/cuidado-com-o-especialista-em-redes-sociais/

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Lançamento do livro: "Ecrã, Paisagem e Corpo" na FNAC Braga





Lançamento do livro: "Ecrã, Paisagem e Corpo" na FNAC Braga

Data:
quinta-feira, 27 de Maio de 2010
Hora:
19:00 - 20:00
Local:
FNAC Braga, CC Braga Parque, Portugal
Cidade/Localidade:
Braga, Portugal

Descrição 

"Ecrã, Paisagem e Corpo" (Grácio Editor, vol. 20 da Colecção Comunicação e Sociedade, do CECS, Univ. do Minho, Portugal).




A obra será apresentada pelo Prof. Moisés de Lemos Martins, Docente na Universidade do Minho, Presidente da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (SOPCOM) e director da colecção.


Sinopse:

Os textos reunidos em "Ecrã, Paisagem e Corpo" assinalam o movimento de translação da cultura ocidental, da palavra para o número, do logos para o ícone, da ideia para a emoção, do uno para o múltiplo, enfim, das estrelas para os ecrãs.


Índice do livro:

Prefácio: Das estrelas para os ecrãs (Moisés de Lemos Martins)
Apresentação (Maria Zara Simões Pinto Coelho e José Pinheiro Neves)
Da instabilidade do ecrã (Maria Zara Simões Pinto Coelho)
Da Transparência (Nelson Zagalo)
A paisagem urbana no cinema. Um último plano de leitura (Helena Pires)
O ecrã nos filmes: Buster Keaton duas vezes (Edmundo Cordeiro)
A experiência perceptiva do ecrã. Novas perspectivas interdisciplinares (José Pinheiro Neves)


Nota de imprensa:


Tem-se acentuado a ideia de crise do humano, à medida que a técnica se afasta da ideia instrumental de simples construção humana para causa do próprio homem,ou seja, à medida em que passamos a falar de vida artificial, de fertilização in vitro, de “barrigas de aluguer”, de clonagem, replicantes e cyborgs, de adeus ao corpo e à carne, de pós-orgânico e de trans-humano. E também à medida que se desenvolve a interacção humana através do computador, onde os chats da Internet, os jogos electrónicos, e as novas redes sociais, como o Second Life, o Facebook e o Twitter, por exemplo, instabilizam as tradicionais figuras de família e comunidade, para em permanência as reconfigurar. Acima de tudo, é a completa imersão da técnica na história e nos corpos que tem tornado problemático o humano. E são as biotecnologias e a engenharia genética, além do desenvolvimento da cultura ciberespacial, as expressões maiores desta imersão. [...] 
Ecrã, Paisagem e Corpo, editado por Zara Pinto-Coelho e José Pinheiro Neves, situa-se neste movimento de translação da cultura ocidental, da palavra para o número, do logos para o ícone, da ideia para a emoção, do uno para o múltiplo, enfim, das estrelas para os ecrãs

sábado, 10 de abril de 2010

"Cyberbullying. Judiciária recebe uma queixa por dia"










www.ionline.pt
Violência na internet está a aumentar. Escolas não têm campanhas de prevenção nem quaisquer meios de acção


Há uma mudança no mundo da socialização juvenil sendo o cyberbullying é um dos sintomas mais gritantes. E o Facebook, desde há uns anos, começa a ter um papel essencial neste fenómeno. Como diz muito bem o psiquiatra Daniel Sampaio, "a internet mudou completamente a maneira como o adolescente se relaciona com os amigos". Diria mesmo que estão a mudar os padrões de socialização em geral da sociedade portuguesa nomeadamente no mundo universitário. No entanto, como diz acertadamente o artigo, não há sensibilização para este fenómeno em Portugal (ver a indiferença geral em relação a cyberbullying). 


Apesar deste panorama negativo, devo aqui realçar, contudo, o trabalho um pouco pioneiro de Luzia Pinheiro, entrevistada nesta notícia do Ionline, que tenta afastar-se de uma lógica simplista do "politicamente correcto". Ver aqui um dos seus sites sobre o tema:


http://sites.google.com/site/cyberbullyingportugal/





segunda-feira, 5 de abril de 2010

"Adiciona-me", reportagem de Rita Colaço sobre as redes sociais, na Antena 1


"Adiciona-me", reportagem de Rita Colaço sobre as redes sociais, na Antena 1 de Lisboa (27 de Março de 2010).


"Adiciona-me" é uma reportagem de Rita Colaço, sobre as redes sociais, que tenta responder à pergunta: Mais informação e mais comunicação é sinónimo de melhor comunicação? Com entrevistas a José Bragança de Miranda, Massimo Di Felice e outros pesquisadores portugueses. Fornece tambem uma panoramica internacional sobre a difusão das redes sociais.

http://ww1.rtp.pt/blogs/programas/estesabado/index.php?k=Adiciona-me-reportagem-de-Rita-Colaco.rtp&post=7392

Reportagem no Youtube sobre Conferência Internacional "Net Activismo e Culturas Digitais"


Ver aqui uma reportagem no Youtube sobre Conferência Internacional "Net Activismo e Culturas Digitais" realizada em Lisboa em 5 e 6 de Fevereiro de 2010:


http://www.youtube.com/watch?v=Y1t7IURmKa0

Programa:

5 de Fevereiro de 2010

Internet: o tribalismo e a comunhão dos santos pós-modernos.
Conferência de Michel Maffesoli

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I - Painel de Conferências sobre Activismo e redes sociais.
Moderado por Manuel José Damásio

Capital social e atividade na rede: contributospara uma definição da experiência coletiva contemporânea. Manuel José Damásio
Da natureza das redes: das redes sociais às redes sócio-técnicas. José Pinheiro Neves
Nós e os laços: a emotividade figurada nas redes.Madalena Oliveira
A inteligência «conectiva» : A experiência vivida na rede. Fabio La Rocca


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A Rede como novo Paradigma de Poder.Conferência de Andrea Miconi


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O Reencantamento do Mundo
Conversa com Michel Maffesoli na Nouvelle Librairie Française. Apresentado por Moisés Lemos Martins.

6 de Fevereiro de 2010
Reflexões sobre os significados da acção social na rede.
Conferência de Massimo Difelice
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II — Painel de Conferências sobre Activismo e estratégias alternativas
Moderado por Moisés Lemos Martins
Colocar on-line o quotidiano o lúdico, o táctil e a fragmentação das finalidades da vida. Moisés Lemos Martins
A TV Digital como instrumento de promoçãoda sociabilidade e da participação cívica. Célia Quico
O Documentário na época das redes. Jacinto Godinho
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III — Painel de Conferências sobre Activismo em rede e as Artes
Moderado por José Bragança de Miranda
Uma problematização do Activismo em rede. José Bragança de Miranda
Arte, mediação e participação. José Manuel Pinto
Do «fuck may 68, fight now» de Atenas ao «anti-facebook» holandês. Notas sobre o artivismo na rede. Fernando José Pereira
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Subjectividade na era das redes.
Conferência de Alberto Abruzzese

segunda-feira, 22 de março de 2010

Call for Applications: ESF-Liu Conference - "Paying Attention: Digital Media Cultures and Generational Responsibility"

Call for Applications: ESF-Liu Conference - "Paying Attention: Digital Media Cultures and Generational Responsibility"

PAYING ATTENTION: DIGITAL MEDIA CULTURES AND GENERATIONAL RESPONSIBILITY
September 6-10
Linkoping, Sweden


"Paying Attention" concerns the politics, ethics and aesthetics of the attention economy. This is the
social and technical milieu in which web native generations live much of their lives. It will address key
questions like:

- What architectures of power are at work in the attention economy?
- How is it building new structures of experience? What kinds of value does this architecture
produce?

"Paying Attention" encourages dialogue between researchers from the fields of Cultural and New
Media Studies, Education, Communications, Economics, Internet studies, Human Computer Interface
Studies, Art and Design. It also seeks the input and insights of creative practitioners exploring critical
and alternative uses of new media forms and technologies.

Chairs:
- Jonathan Dovey, Digital Cultures Research Centre, University of the West of England, UK
- Patrick Crogan, Department of Culture, Media and Drama, University of the West of England, UK

Invited Speakers will include:
• Michel Bauwens, Foundation for Peer-to-Peer Alternatives
• Ruth Catlow, Furtherfield .org Independent Net Art collective, UK
• Jonathan Dovey, University of the West of England, UK
• Aphra Kerr, National University of Ireland Maynooth, IE
• Simon Poulter, Independent Digital Artist and Curator, UK
• Stanza, Independent Digital Artist, UK
• Bernard Stiegler, Institut de recherche et d’innovation, Centre Georges Pompidou, FR
• Tiziana Terranova, University of Naples, IT


Full conference programme, including list of invited speakers, and application form accessible online
from www.esf.org/conferences/10316

Grants are available for students, early stage researchers and other applicants to cover the
conference fee and possibly part of the travel costs. Grants are distributed based on financial need,
ESF conference participation guidelines and scientific merit. Grantees must attend the entire
conference in order to benefit from the grant.

Closing date for applications: 1 May 2010.

ESF Contact: Anne Blondeel - ablondeel@esf.org

This conference is organised by the European Science Foundation (ESF), in partnership with the
University of Linköping (LiU).

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Distributed through Cyber-Society-Live [CSL]: CSL is a moderated discussion
list made up of people who are interested in the interdisciplinary academic
study of Cyber Society in all its manifestations.To join the list please visit:
http://www.jiscmail.ac.uk/lists/cyber-society-live.html
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AULA ABERTA "The Rise of New PlaNET (international communication 2.0) and the Trends of Emerging web-native world".


AULA ABERTA



"The Rise of New PlaNET (international communication 2.0) and the Trends of Emerging web-native world".
Prof. Kazimierz Krzysztofek, PhD
Institute of Sociology, University of Bialystok, Poland

Data: 3ª Feira - 23 Março de 2010 das 14 às 17h.
Local: Universidade do Minho, Complexo Pedagógico 3 - Gualtar. Sala 3.301
I - Rise of the Global Communication 2.0: From Institutions to Networks

The lecture is meant at giving an answer to important question what kind of culture is emerging in international networks, what cultural activities of people on the net are like and what future they will create, how they will feature the international communication thus tracking the future trends of social and cultural development, in what degree this will be a continuity and in what measure new cultures will change the world in generations to come. International communication as a term seems a bit obsolete as we do not really know what the very word “nation” means nowadays. That is why when talking about communication 2.0 the “global communication” seems more relevant.
II. Emerging web native world: cultural and institutional time lag
Here I attempt at answering a question what a new quality the present day Web–coined 2.0 – creates as a product of digital network technologies of cooperation and user generated contents. The Author reflects on the nature of this emergent phenomenon: to what extent it is an open participatory system of information/knowledge creation and distribution beyond markets and corporations, in what measure a new system of market regulation and in what degree a self-regulating and self-poietic system to use the Niklas Luhman’s term, and, finally, what cultural and institutional change it brings about. To get a better grip of the nature of this change a general conceptual framework has to be conceived that is based on legitimate principles of power and freedom in networks.
..........................................
Brief CV
Kazimierz Krzysztofek's fields of research and scholarly competence include: the impact of information technology on the arts; the implications of IT for cultural industries and culture production, distribution, and consumption; and community cultures and civil society. Since 1994 (until 2000) he worked at the Institute of Culture as Director for Research. He has been Professor of Sociology at the University of Bialystok since 1997, vice-president of the Pro Cultura Foundation and a member of the Polish Academy of Science Committee for Forecasting "Poland 2000Plus" since 1995. Since 2000 he has been professor of sociology at the Warsaw School of Social Psychology in Warsaw. ;; He is also a member of the International Studies Association, as well as a member and former board member of the European network of research institutes on culture and culture documentation centers (CIRCLE). In 1987/88 he was senior Fulbright scholar in the MIT Center for International Studies (Program on International Communication) and in 1996, a visiting lecturer at the Pennsylvania State University, State College, Pa, He has published widely and received numerous awards and honours. I.a. he is co-author of the university text-book : Understanding Human Development: from traditional to information society (2002), as well as UNDP Report” Poland on the way to Information Society: Logging on (2003)

segunda-feira, 15 de março de 2010

"Apropriações do Twitter" de André Lemos

A apropriação social da tecnologia.

Excertos de "Apropriações do Twitter" de André Lemos

"A cibercultura nos dá, desde o início, exemplos de como a apropriação social dirige os rumos do desenvolvimento tecnológico.

[...]

No entanto, essa apropriação social da tecnologia não é exclusiva do campo das novas tecnologias ou das novas mídias, mas inerente à toda evolução tecnológica. Veja, nesse sentido, o interessante site de Kevin Kelly, Street Use, para se ter uma idéia dessa apropriação ao quotidiano. Gambiarras são produzidas o tempo todo. Desde sempre, e desde o início, o “Homo Faber”, o que faz coisas, e “Homo Ludens”, o que “joga” com as coisas, se encontram no mesmo Homem que lida com seus artefatos. E é nos desvios que surgem sempre os usos mais criativos, críticos ou mesmo inovadores, no sentindo de impulsionar, no seu modo de existência (Simondon), os destinos da sociedade humana.

[...]


Hoje o Twitter é incontornável, utilizado para reforço social e comunitário, como forma de denúncia política (como recentemente no Irã) ou de ajuda humanitária (nos terremotos do Haiti e do Chile), para a circulação de informações acadêmicas, propaganda governamental e/ou empresarial, como extensão de empresas de informação, etc. Os usos são inúmeros e variados. Assim, o que foi pensado como uma simples atualização de amigos dizendo o que eles estariam fazendo naquele momento, se transformou, pelo uso social e não pela intenção original, em algo maior, mais importante e menos frívolo. As vezes, dizer o que se está fazendo é o que menos aparece no sistema.

[...]

Nada disso foi previsto e tudo isso só enriquece a ferramenta, os usuários e, obviamente, seus idealizadores. E assim caminha a cibercultura no embate entre o “sistema” e o “mundo da vida” mostrando a adaptação do primeiro e a criatividade do último.



"Redes sociais não, obrigado"

"Redes sociais não, obrigado"

Por Pedro Afonso

in Jornal Público (15 de Março de 2010)

http://jornal.publico.clix.pt/noticia/15-03-2010/redes-sociais-nao-obrigado-18988716.htm

O crescimento das redes sociais demonstra que o Homem, outrora sonhador, com ideias e valores, está a capitular



"Seja como for, parece não existirem dúvidas de que se criou um certo consumismo social, sem esforço, e acessível a alguns toques no teclado do computador. Porém, as redes sociais da Internet, no sentido em que são redes virtuais e menos complexas, podem surgir como uma forma de resistência à aquisição de uma verdadeira aprendizagem social, promovendo a regressão e a imaturidade. A amizade criada no mundo real demora tempo a consolidar-se e passa por diversas provas que nada têm a ver com as pseudo-amizades do mundo virtual. Por essa razão, nenhum relacionamento através do computador substituiu a experiência da presença humana: a troca de olhares, a expressão facial, os gestos, o tom de voz, etc. As redes sociais favorecem o empobrecimento do relacionamento social - criando-se novas formas de solidão - porque as relações pessoais reais são mais ricas e profundas."


Comentário breve

É uma posição saudosista que, de certa forma, não entende a mudança na natureza das ligações sociais no mundo moderno. É mais uma posição moralista que, apesar das boas intenções, não leva na prática a lado nenhum como aliás todos os moralismos. Talvez faça sentido accionar uma posição dialógica de tipo ético, menos rígida tendo em conta a crise das ligações no mundo moderno.

A idéia de "moral" e "ética", implícita no meu texto, tem origem em Gilles Deleuze "Sur la différence de l'Éthique avec une Morale", segundo capítulo do livro: Spinoza - Philosophie pratique (Minuit, Paris, 1981).

Simplificando ao máximo, a moral liga-se aos "códigos, isto é, o conjunto de valores e regras de acção vigentes na sociedade em que estamos vivendo; guia as nossas escolhas, tomando como referência tais códigos ".

A ética, por seu lado, "guia as nossas escolhas, só que seleccionando o que favorece e o que não favorece a vida, tendo como critério a afirmação de sua potência criadora."


Eu diria que o que está em jogo é o processo terapêutico de individuação (não confundir com o individualismo) num mundo que perdeu a estabilidade anterior. Talvez esse processo se tenha tornado menos linear e pode, apesar de tudo, passar por estas novas redes. Desde que, e aqui está presente uma opção ética, permita, como dizia Carl Jung, uma reconciliação consigo mesmo e ao mesmo tempo com a humanidade no sentido da vida e do respeito pela diferença.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Como almas penadas, erramos em direcção ao nada ou a qualquer coisa: o Facebook e a vida quotidiana

"Como almas penadas, erramos em direcção ao nada ou a qualquer coisa": o Facebook e a vida quotidiana

(Comentário de um texto sobre as ligações sociais através do Facebook).

Isabel Coutinho, "Retirar alguém das redes sociais. Facebook: desamigar é a nova palavra" in Público, 3 de Dezembro de 2009. Ver aqui:

http://www.publico.pt/Tecnologia/facebook-desamigar-e-a-nova-palavra_1412415

O Facebook tinha inicialmente um objectivo muito simples: aumentar a rede de contactos dos jovens universitários dentro do território universitário. Neste sentido, surge como um complemento das redes de "amigos" tradicionais (relações de co-presença física):

"Não se sabe se pela cabeça dos fundadores do Facebook, Mark Zuckerberg e Eduardo Saverin, passou alguma vez a ideia de que os utilizadores do site iriam estar preocupados com esta coisa de desamigar. É que o Facebook nasceu porque eles queriam conhecer outras pessoas. "Eles só queriam conhecer algumas miúdas..." é a frase que Ben Mezrich, autor do livro Milionários Acidentais - A Criação do Facebook: Uma História de Génios, Sexo, Dinheiro e Traição (que irá ser publicado em Janeiro pela Lua de Papel), mais tem utilizado para explicar como é que nasceu esta rede social em 2004". (ver artigo do jornal Público, citado acima)

Entretanto, em 2006, esta situação altera-se com o alargamento exponencial do Facebook.

"Era assim em 2004, quando o Facebook surgiu e se destinava apenas a estudantes (só desde Setembro de 2006 é que é aberto a toda a gente). Desde então muitas coisas mudaram, outras nem por isso". (ver artigo do jornal Público, citado acima)

Várias questão emergem: qual a razão do sucesso tão rápido deste tipo de redes? Qual a razão que nos leva a passar muitas horas em frente ao ecrã do computador fazendo amigos, conversando e jogando no Facebook? Será que este alargamento das redes sociais foi algo de novo? Poderíamos falar de novas formas de nos relacionamos socialmente? Ou, e este é o meu argumento principal, o facto destas redes começarem a alargar-se de uma forma exponencial seria um sintoma de uma mudança fundamental na nossa forma de viver o trabalho, a vida sentimental e a relação com os amigos?

Podemos, na verdade, fazer várias interpretações deste fenómeno. Uma primeira seria a mais habitual no mundo cibernético: a tese de que melhora a nossa condição de vida alargando o nosso círculo de amigos, descobrindo novos jogos, etc. numa lógica de fastfood de consumo e sexo. Um outra reafirma o papel da ligação social tradicional dizendo que, no essencial, nada muda. Finalmente, teremos uma tese mista, que irei defender, que acentua as interacções híbridas entre o mundo da tecnologia e a vida social nomeadamente na instância decisiva: o nosso quotidiano, a nossa apreensão subjectiva da vida do dia-a-dia. E que contextualiza estas mudanças no âmbito da crise da forma moderna de trabalhar e viver.

A tese de continuidade que reafirma a importância do social

Deixando para outra oportunidade a tese eufórica da defesa da Internet, a argumentação mais tradicional no mundo académico, defendida por alguns sociólogos, passa pela ideia de que, no essencial, nada muda. O Facebook é mais um instrumento de relacionamento social (a tese de Manuel Castells é semelhante: ver o meu artigo sobre a noção de rede social: aqui).

"Aquilo que a investigação tem mostrado é que as pessoas acabam a repetir na Internet o mesmo tipo de dinâmicas sociais que têm habitualmente. "O meio tecnológico muda, mas o fenómeno social acaba por ser mais ao menos o mesmo. 'É essa também a opinião de Gustavo Cardoso, sociólogo do ISCTE, autor de Para Uma Sociologia do Ciberespaço. "A maneira como usamos o Facebook é aquela como nos relacionamos face a face. É mais uma ferramenta nessa estratégia de relacionamento'." (ver artigo do jornal Público, citado acima)

A tese da mudança

Contudo, as investigações mostram que algo está a mudar. Para entendermos essa mudança teremos de fazer uma espécie de mudança de paradigma no nosso olhar como investigadores sociais (ver Maffesoli e Gabriel Tarde). Como digo num texto sobre Gabriel Tarde, "o estudo dos fenómenos como as novas redes sociais mediadas digitalmente deve valorizar igualmente as apreensões subjectivas e diferentes que agregadas constituem a realidade tal como é defendido por Gabriel Tarde, Certeau, Le Roy Ladurie e Descola. Devem-se evitar as diferenciações entre moderno e pré-moderno em torno de grandes categorias reificadas. De facto, no meio das novas tecnologias digitais coexistem lado a lado o moderno e o pós-moderno".

(http://socialsoftware-portugal.blogspot.com/2010/02/da-importancia-do-quotidiano-no-estudo.html)

Desta forma, partindo de uma perspectiva assente no quotidiano em que as misturas, entre pré-moderno, moderno e pós-moderno, estão cada vez mais presentes, alargam-se e aceleram-se as redes sociais de co-presença e as mediadas pelas redes digitais assistindo-se a uma espécie de efeito de ampliação que não é necessariamente apenas quantivativo. Ou seja, quanto mais tempo passamos no social-networking mais aumentam e se reforçam os nossos relacionamentos baseados nas relações interface mas também os de fora dessa rede local.

No entanto, parece que esta mudança não é assim tão acentuada. A noção de que estarmos a mudar radicalmente não é totalmente suportada pelas investigações. Algumas pesquisas, nos EUA e na Europa, mostram que em grande parte os relacionamentos via SNS (Social-Networking Sites) correspondem ainda às redes baseadas na interacção de co-presença física.

"Para os jovens a internet não é nem um inferno nem um paraíso e não muda completamente o mundo. É também, e acima de tudo, um instrumento de diversão. Na utilização concreta verifica-se que, “apesar da imensidão da Web, a tendência é para tecer pequenas teias pessoais.”

In http://www.josecarlosabrantes.net/detalhe.asp?id=219&idc=38

Um outro estudo, nos EUA, diz-nos que, no caso dos jovens adolescentes (12-17 anos), as estratégias variam em função do género. No caso das raparigas, pretende-se reforçar as relações de co-presença já existentes. Os rapazes, pelo contrário, pretendem alargar a sua rede social.

"The survey also finds that older teens, particularly girls, are more likely to use these sites. For girls, social networking sites are primarily places to reinforce pre-existing friendships; for boys, the networks also provide opportunities for flirting and making new friends".

in http://www.pewinternet.org/PPF/r/198/report_display.asp

View PDF of Report

Contrariando assim parcialmente a tese de que o Social-Networking na Internet não muda no essencial a relação social, seria interessante sugerir uma tese intermédia entre euforia dos defensores da internet e os seus críticos tradicionais.

Em primeiro lugar, vale a pena uma maior aproximação ao fenómeno a partir de uma visão fenomenológica e quotidiana. Por exemplo, saber se estas diferenças também são significativas entre grupos sociais mais velhos. Neste sentido, poderíamos mesmo avançar a hipótese de que os STS tendem a ser uma das várias vias para alargar os nossos horizontes numa fase mais avançada da vida. Poderia mesmo fazer-se uma tipologia da sua utilização em função do maior ou menor grau de risco e nomadismo que, em grande parte, atravessa duas fases essenciais da vida: a entrada no mundo do trabalho e a sua saída. Seguindo parcialmente os preceitos da religião hindu e os fundamentos das éticas orientais, talvez esteja a emergir, com a ajuda destas novas ligações, uma consciência que encara o investimento no mundo do trabalho assalariado como um intervalo e não como o centro da vida (a valorização do trabalho e do modelo empresarial moderno emergiu, numa coincidência que Max Weber estudou exaustivamente, no século XIX, com a ética protestante baseada na predestinação).

Num certo sentido, no caso de alguns grupos sociais, os STS reforçam as lógicas de fechamento em grupos relativamente estáveis e fechados que ainda se centram numa base tradicional de vida. Noutros grupos, pretende-se não só alargar como também alterar as práticas de uso do próprio STS. Seriam de incluir neste grupo, jovens artistas e criadores para quem o contacto com grupos de afinidade ultrapassa a lógica do grupo tribal baseado no território e para quem o trabalho assalariado deixou de ser o centro da sua vida. Por outro lado, num certo sentido, estaríamos perante novas tribos que já não assentam na lógica territorial ou identificação com valores de tipo nacionalista ou local. Seria uma alteração na sua individuação num sentido mais aberto ao mundo e à diferença (ver a individuação em Carl Gustav Jung). Ou, usando os termos de Gilbert Simondon, assiste-se a uma nova mistura entre o étnico e o técnico em que as lógicas étnicas territoriais estariam a mudar em favor de uma nova mistura entre o técnico e o étnico. Uma nova forma de ser tribo, usando a ideia de Maffesoli.

De certa forma, estas redes seriam também produtoras e efeitos (ao mesmo tempo) da mudança e crise no coração da forma mais divulgada de relação social: a condição assalariada do trabalho produtivo que assenta na energia e na produção material (Ver Karl Marx). A mudança nessa relação passa, como veremos com Antonio Negri, pelo aumento exponencial do trabalho imaterial (trabalho essencialmente de comunicação) criando as condições subjectivas para a crise desse modelo.

De acordo com Richard Sennet (ver aqui),

"podíamos ter perdido a atracção pela acção política; podíamos estar confusos quanto ao valor moral de muitas experiências emotivas, mas dispúnhamos [na época moderna] de critérios razoavelmente claros e partilhados para avaliar a criatividade e a produtividade de cada um, no processo de fabricação de artefactos úteis ao mundo".

A relação baseada no trabalho material funcionava, no quotidiano, como um momento de estabilidade na nossa relação com o mundo. A ética moderna do trabalho dava-nos a estabilidade para conduzir a nossa vida acreditando que, no final, uma boa reforma baseada no nosso sacrifício seria um pouco o céu na terra. Todavia, toda esta crença começa pouco a pouco a ser corroída com o neo-liberalismo selvagem e a indefinição na nossa relação com um trabalho cada vez menos material e assente em relações cada vez menos solidárias.

"Actualmente, mesmo esse frágil gancho com o que está "fora de nós" veio abaixo. Com as novas regras da livre concorrência, a insegurança da vida sentimental se estendeu à vida profissional. Qualquer parceria se tornou precária. A presença do outro não mais suscita apelo à colaboração, mas sim desejo de instrumentalização. Tornamo-nos uma multidão anónima, sem rosto, raízes ou futuro comum. E, se tudo é provisório, se tudo foi despojado da dignidade que nos fazia querer agir correctamente, quem ou o que pode apreciar o "carácter moral" de quem quer que seja? Na cultura da "flexibilidade", como reza o jargão neoliberal, ou fingimos acreditar em valores que não mais existem ou acreditamos, verdadeiramente, em miragens - e a alienação é ainda maior." (recensão de R. Sennet: ver aqui)

Neste esvaziamento, começamos a tentar coisas novas, uma espécie de vagabundagem que tanto nos liberta como aumenta a insatisfação e nos leva para novas dependências. Neste contexto, surge o fenómeno das redes sociais digitais como uma saída (em grande parte ilusória) para a crise do mundo moderno.

Nas palavras de Sennet, "isolados do público, pela paixão dos interesses privados, e dos mais próximos afectivamente, pela degradação do trabalho e pela volubilidade sentimental, erramos em direcção ao nada ou a qualquer coisa." (recensão de R. Sennet: ver aqui)

A satisfação imediata e rápida assente num consumo acelerado, usando em grande parte a Internet, torna-se o nosso lema. A moda da amizade fast-food, sexo e dos jogos on-line parece ser o nosso destino comum.

"Tanto faz o bem e o mal, o justo e o injusto, quando o que temos como guia é o bem-estar do corpo e das sensações. Resta acreditar que "consumir objectos de desejo" é o mesmo que "satisfazer desejos". Enquanto acreditamos nisso, o show continua: no desfile das drogas, cartões de crédito, pornografia na Internet, etc." (recensão de R. Sennet: ver aqui)

Desta forma, esta via esgotada do capitalismo, de uma forma de "ser" assente no assalariado e na ética do trabalho, dá lugar a um novo niilismo que passa pelo contacto acelerado e corporal com as redes digitais numa lógica de sensações rápidas e sempre insatisfeitas. Uma crise que tanto nos pode levar a um afundar cada vez maior no consumo e nas relações sociais fast-food, como pode fazer emergir coisas novas, alternativas e mais criativas de vida, e de relação com a morte.

Como diz António Negri,

"o lugar onde se produz o excedente de produtividade já não é a fábrica, nem o sistema da grande indústria, mas o conjunto de ''redes'' sociais por meio das quais essa massa de trabalhadores imateriais aprende, coloca-se em contato, comunica, inventa, produz mercadorias e faz tudo isso reproduzindo subjetividades. Porque somente a alma e o cérebro produzem hoje excedente".

No meio desta crise das categorias básicas da modernidade, assiste-se, por todo o lado, à emergência de movimentos sociais novos e difusos (e algumas faces do social-networking digital são um exemplo), muitas vezes numa lógica de multidão e de rede polimórfica, em que se defende, nas palavras de Negri (1997), o "direito de ir-e-vir e de cidadania, [um] nomadismo da força de trabalho, da procura de novos espaços de expressão e vida, uma condição irremissível da liberdade e da riqueza".

(ver: António Negri, "Direita e esquerda na era pós-fordista: mudanças na esfera da produção levam a novas formas de organização e atuação políticas", in Folha de São Paulo, 29/06/97,http://www.dossie_negri.blogger.com.br/index.html [Consultado em: 12 de Fevereiro de 2010]).

Nota: muitas destas ideias surgiram a partir da leitura de textos (e de conversas com) de Moisés de Lemos Martins, Zara Pinto Coelho, José Bragança de Miranda, Albertino Gonçalves, Jean-Martin Rabot, Edmundo Cordeiro e Pedro Daniel R. Costa (ver aqui o seu excelente blog "Sociologia da Individuação"). O meu sincero agradecimento a todos.